Como é o desenvolvimento motor de um bebê prematuro?
O mês de novembro foi escolhido para propagar as informações sobre a prematuridade, por meio do movimento Novembro Roxo. De acordo com dados da Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), cerca de 12% dos partos no Brasil são prematuros. A boa notícia é que 80% dos bebês que nascem antes do tempo conseguem sobreviver.
Segundo a fisioterapeuta Walkíria Brunetti, Mestre em Desenvolvimento Motor de Prematuros pela Santa Casa de São Paulo, embora os bebês prematuros contem com recursos da medicina neonatal, que permitem salvar até os prematuros extremos, é preciso se preocupar com as morbidades que podem surgir em decorrência do parto pré-termo.
“A criança prematura não passou pelo desenvolvimento intrauterino completo. Assim, ao nascer, apresenta imaturidade funcional e estrutural de diversos tecidos e órgãos. Isso aumenta o risco de ocorrerem desvios ou atrasos no desenvolvimento, incluindo o neuropsicomotor. Quanto menor o tempo de gestação, maior é o risco”, comenta Walkíria.
Tempo de internação x desenvolvimento motor Além da prematuridade por si só ser um fator de risco, Walkíria lembra que o tempo de internação também pode impactar no desenvolvimento motor. Alguns bebês, principalmente os prematuros extremos ou aqueles com outras intercorrências, podem precisar de um tempo maior de internação hospitalar, na UTI neonatal.
“Infelizmente, nesse período de internação na UTI neonatal, os bebês costumam ficar mais sonolentos ou ainda privados do contato direto com a mãe. Esses dois fatores impactam na restrição dos movimentos espontâneos, que são fundamentais para o desenvolvimento neuropsicomotor”, explica a especialista.
Idade cronológica x idade corrigida
É importante dizer que nem todos os prematuros terão atrasos ou desvios no desenvolvimento. Mas, segundo estimativas, praticamente metade irá apresentar algum tipo de problema motor. Por isso, os prematuros precisam ser acompanhados de perto por um neurologista infantil, preferencialmente desde o nascimento.
Para avaliar o desenvolvimento, é preciso fazer correção da idade. “Existe a idade cronológica, referente ao dia do nascimento. Mas, para avaliar o desenvolvimento, é preciso ajustar a idade ao grau de prematuridade, correspondente à idade que o bebê teria se tivesse nascido de 40 semanas. Normalmente, corrige-se a idade até por volta dos dois anos”, explica Walkíria.
Quais são os sinais de atraso?
Nos primeiros doze meses, é possível analisar a evolução motora do bebê prematuro por meio da avaliação do tônus, postura, mobilidade e força muscular. “Alguns desvios podem ser transitórios e envolver a postura, a motricidade fina e grossa, a coordenação, equilíbrio, reflexos e distonias. Porém, essas alterações, em cerca de 40 a 80% dos casos, tendem a desaparecer no segundo ano de vida”, comenta a fisioterapeuta.
Por outro lado, os pais não devem esperar para fazer uma avaliação. “A detecção precoce de atrasos é importante, pois permite colocar a criança dentro de um programa de estimulação em um período conhecido como ‘janela de oportunidade’, que ocorre nos dois primeiros anos de vida”, diz Walkíria.
De acordo com especialista, os primeiros 24 meses contam com uma neuroplasticidade intensa. “Nessa fase, o cérebro é capaz de criar novas conexões neurais como em nenhuma outra etapa da vida. Por isso, os bebês que passam por terapias de estimulação precocemente, dentro deste período, apresentam um melhor resultado no tratamento dos atrasos ou desvios do desenvolvimento neuropsicomotor”, explica.
Terapias disponíveis Walkíria é especializada no método Bobath e conta que é usado há muitos anos para ajudar no desenvolvimento motor de prematuros. “O Bobath segue as etapas do desenvolvimento neuropsicomotor do bebê. Isso ajuda a inibir os padrões patológicos e a estimular os normais. Avaliamos, por exemplo, se os padrões estão dentro do esperado para a idade. Se é detectado um atraso, é traçado um plano de tratamento”.
“No Bobath são usados vários recursos, como bolas, rolos e outros acessórios para manipulações ativas e passivas. Tudo é feito para facilitar os membros que apresentam comprometimento, alongar músculos que estão encurtados, mobilizar juntas que estão enrijecidas, fortalecendo e tonificando a musculatura que está enfraquecida – algo que todo prematuro tem”, conta Walkiria.
A introdução precoce do método pode beneficiar os bebês a estabelecer padrões de movimentos primários que contribuem para reverter os atrasos motores, assim como ajuda no desenvolvimento de outras habilidades. Outra vantagem do Bobath o conceito de individualidade, pois cada bebê é diferente do outro. Assim, o plano de tratamento sempre será personalizado.
“Vale lembrar que o papel dos pais é crucial no tratamento. O bebê precisa receber os estímulos também em casa. Por fim, o desenvolvimento motor está diretamente ligado ao cognitivo, pois a exploração do mundo, sem restrições motoras, é fundamental para a parte cognitiva”, conclui Walkíria.